Foucault analise quais seriam as formas de coerção sobre os homens. Observa que criamos um tipo de vida manso e dócil, dentre as durezas do capitalismo - a opressão excessiva pode despertar o fantasma das revoltas, mas para Foucault isso não é possível porque existem muitos poderes de coerção que mantêm todos os indivíduos como ovelhas que obedecem. Ou seja, há uma manutenção da opressão pelas instituições; produzindo sujeitos mansos, dóceis, produtores e consumidores.
Segundo o filósofo, existem dois tipos de poderes, o vertical e o horizontal. No primeiro caso, ele explica que há um Estado( única instituição) que exerce uma força vertical que dita as regras sociais a essa massa populacional ( massa relativa à Idade Média; Leviatã de Hobbes). Já no segundo caso, Foucault tenta construir outro modelo que permite apontar outras formas de poderes ( instituições) além do Estado, como a família, Igreja, trabalho, escola, etc, sendo essas dispostas em um rede horizontal de poderes.
Foucault compara a sociedade moderna com o Panótipo de Jeremy Benthan, onde um único policial (ou um guarda, ou uma autoridade, ou uma instituição, ou qualquer individuo, etc.) vigia vários prisioneiros ao mesmo tempo, e ainda este guarda permanece invisível aos prisioneiros. Foucault afirma que "a visibilidade é uma armadilha". É através dessa visibilidade que a sociedade moderna põe em exercício seus sistemas de poder e conhecimento sobre o outro para ter o controle/domínio.
Ele observa no comportamento da sociedade moderna a continuação do cárcere( forma usada para disciplinar), partindo das prisões de segurança máxima propriamente, em direção a segurança e conforto privados, até os serviços sociais, policiais, professores e até nossa vida cotidiana. Tudo está sob supervisão de alguém.
Espelhando-se nessa análise, vemos que na sociedade moderna há sempre dentro de cada instituição um poder disciplinar que adestra e adequa o homem para que seja possível a realização do poder destas instituições, permitindo até o controle da regulamentação da população, da vida social, da taxa de natalidade e mortalidade, da expectativa de vida, procriação( poder da biopolítica).
Unindo os pensamentos de Foucault com Durkheim, temos um indivíduo que não consegue viver fora da sociedade capitalista, pois nessa sociedade é necessária a educação e institucionalização das regras sociais para que este individuo consiga viver livre e sem sofrer coerção. Como Foucault diz que somos ovelhas, podemos entender através desta denominação que no fundo nem percebemos o quanto somos controlados desde o nascimento para sermos aquilo que a sociedade espera de nós( normatizados).
Essa análise fica evidente com o filme “ Na natureza selvagem” onde a personagem Christopher McCandless abandona tudo o que tinha, a familia, a casa e o dinheiro a fim de buscar uma vida genuína que não fizesse parte do mundo capitalista em que estava instituido. Pelo fato de ter nascido e vivido a maior parte nesta sociedade, McCandless acaba por não conseguir realizar um vida descente sozinho e morre. Percebemos então, como é difícil viver sem a ajuda da sociedade e, apesar de ter ser oprimido pelas grandes instituições, elas acabavam por nos beneficiar, pois são elas quem nos moldam e permitem uma vida digna na sociedade. Podemos até dizer que as instituições dependem dos homens e vice-versa.
Devida a essa dependencia, para as instiuições, a morte é vista como algo ruim, pois o homem vivo é produtivo e garante o crescimentos daquelas. A preservação da vida na sociedade, na perspectiva de Hobbes -"fazer morrer, deixar viver"- contradiz a ideia de Foucault- “ fazer viver, deixar morrer”- na qual a morte se torna um tabu para a sociedade contemporânea e a vida é almejada; a morte é um fracasso.
Assim, entende-se a necessidade das instituições como contribuição para o adestramento dos indivíduos na sociedade e estes indivíduos devem, portanto, aceitar as regras sociais para se sentirem livres e honrados em contribuírem e garantirem a ordem da sociedade.